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Chablis vs. Puligny-Montrachet: O segredo da diferença de preço e a magia do terroir na Borgonha

  • Foto do escritor: Aline Mendonça
    Aline Mendonça
  • 7 de nov.
  • 3 min de leitura

É uma cena familiar para qualquer apaixonado por vinhos brancos da Borgonha: na carta de vinhos, um Chablis Grand Cru como Les Clos aparece ao lado de um Grand Cru proveniente de Puligny-Montrachet ou de Chassagne-Montrachet. Dois nomes prestigiosos, dois Chardonnays nascidos do mesmo berço borgonhês… mas com preços que, muitas vezes, não têm nada em comum.


Por que um custa três vezes menos que o outro? Mistério? De forma alguma! É uma história fascinante de clima, prestígio e, acima de tudo, a pura expressão do nosso amado terroir.


A Geografia do Terroir: Dois Vilarejos, Dois Mundos


Para entender essa diferença, precisamos pegar a estrada e sentir a Borgonha.

Se você sair de Beaune e seguir para o norte, rumo a Auxerre, encontrará Chablis.


Ele se ergue, solitário, a cerca de cem quilômetros da Côte d’Or, sobre um solo de Kimmeridgiano - uma mistura de giz e fósseis marinhos que confere aos seus vinhos uma mineralidade única. Chablis é a Borgonha do Norte, com um clima mais frio e uma paisagem mais austera.


No extremo oposto, a apenas alguns quilômetros ao sul de Beaune, repousa Puligny-Montrachet. Ele está no coração da Côte de Beaune, cercado por vilarejos míticos como Meursault e Chassagne-Montrachet. Aqui, o clima é mais ameno e o solo é predominantemente calcário-argiloso.


Cada fileira de videiras é um tesouro, e o simples nome “Montrachet” já basta para causar arrepios nos amantes do vinho.


A Expressão na Taça: Frescor Cortante vs. Riqueza Sedosa


A diferença de terroir se traduz imediatamente na taça, e é aqui que a mágica do Chardonnay se revela.


Um Chablis Grand Cru é tenso, puro, salino, quase cortante. Ele evoca a retidão, a energia e o equilíbrio. Eu costumo dizer que ele fala de pedra de isqueiro, conchas e da chuva fria sobre a pedra calcária. É um vinho que provoca o paladar.


Um Montrachet (ou um Puligny Grand Cru), por sua vez, toca outra melodia: mel, manteiga fresca, avelã tostada, flores brancas e uma textura incrivelmente sedosa. É um vinho que acaricia, que envolve. Enquanto Chablis fala do mar e da mineralidade, Puligny fala do sol, da nobreza e da opulência.



O Efeito da Raridade e do Prestígio: Por Que o Preço Dispara?


A matemática da Borgonha é implacável: a raridade é o principal motor do preço.


Denominação

Área Aproximada de Vinhedos

Classificação Grand Cru

Preço Médio (Grand Cru)

Chablis

Cerca de 6.000 hectares

7 Climats (100 hectares)

Menos de €200

Puligny-Montrachet

Apenas 220 hectares

4 Climats (Cerca de 20 hectares)

Acima de €2000


Os vinhos provenientes de Puligny são, literalmente, raros, quase inacessíveis. A produção é minúscula, e a demanda global é gigantesca. Como sempre acontece no mundo do vinho, a raridade desperta o desejo – e o desejo inflaciona o preço.


Uma garrafa de Montrachet pode ultrapassar os €2000, enquanto um magnífico Chablis Grand Cru Les Clos costuma custar menos de €200.


Além da raridade, o peso da reputação histórica também é um fator. Há séculos, os vinhos da Côte de Beaune brilham nas mesas reais e nas adegas dos grandes colecionadores. “Montrachet” se tornou uma palavra mágica, sinônimo de perfeição e luxo.


Duas Expressões de uma Mesma Uva: Chablis vs. Puligny-Montrachet


Portanto, não se engane: os Grands Crus de Chablis não são "inferiores". Eles simplesmente contam outra história, uma história de pureza e retidão.


Enquanto Puligny brilha como uma joia opulenta, Chablis reluz como uma pedra bruta. Um fala de riqueza, o outro de pureza. E talvez seja justamente essa a verdadeira mágica da Borgonha: em uma única casta, o Chardonnay, o terroir se expressa de maneiras tão profundamente diferentes.


Apreciar a Borgonha é apreciar essa diversidade. É entender que o preço não define a qualidade, mas sim a raridade e a história.


A très bientôt!


aline vinho turismo borgonha

Formada em Degustação pelo Terroir, na Universidade de Dijon. Há 11 anos assessorando brasileiros na Borgonha. Especialista em vinhos da Borgonha e visitas na região.

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